Tecnologia desenvolvida com nanopartículas reduz os efeitos da quimioterapia sobre células saudáveis
Sistema testado pelos pesquisadores brasileiros é composto de nanopartículas de sílica, que contribuem para diminuir os efeitos colaterais sobre os pacientes
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- Postado em: ago 10, 2016
- Brasil
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Pesquisadores dos laboratórios nacionais de Luz Síncrotron (LNLS), Biociências (LNBio) e Nanotecnologia (LNNano) estão desenvolvendo uma tecnologia baseada em nanopartículas para que medicamentos quimioterápicos atinjam especificamente as células do câncer, causando um dano mínimo às células saudáveis do corpo. As pesquisas, feitas em parceria com cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foram desenvolvidas no LNLS.
A maioria das drogas usadas na quimioterapia do câncer ataca o processo de divisão celular. Embora a divisão descontrolada seja a característica principal dos tumores, células saudáveis também se dividem e, por isso, acabam sofrendo com a ação dos quimioterápicos que, uma vez aplicados, se espalham por todo o corpo, causando efeitos colaterais.
O sistema testado pelos pesquisadores brasileiros é composto de nanopartículas de sílica – o mesmo material dos grãos areia – revestidas por um tipo de molécula orgânica, o folato. "A célula de câncer expressa mais receptores de folato que as células normais", explica o biólogo da Unicamp Jörg Kobarg. Com isso, as nanopartículas, que podem carregar quimioterápicos, acabam sendo mais absorvidas pelo tumor do que por tecidos saudáveis.
"Ainda não sabemos exatamente se foi o folato que criou essa seletividade", acrescenta Kobarg. "Mas as partículas estão revestidas com o folato, e a célula de câncer expressa mais desse receptor, então essa poderia ser uma explicação. A gente observou que, realmente, a nossa partícula é bem mais tóxica para a célula de câncer do que para a célula normal".
Insolúvel
O artigo publicado no periódico Langmuir, "Functionalized Silica Nanoparticles As an Alternative Platform for Targeted Drug-Delivery of Water Insoluble Drugs", descreve a ação do modelo sobre linhagens de células da próstata, saudáveis e tumorais. As nanopartículas revestidas de folato foram carregadas com curcumina, um pigmento extraído do açafrão-da-terra que vem sendo estudado como possível medicamento contra o câncer. Em tese, as partículas poderiam transportar qualquer droga, inclusive quimioterápicos tradicionais.
"Ela [curcumina] é colorida, o que é uma vantagem na hora de analisar as partículas, e é insolúvel em água, o que traz uma vantagem adicional. Hoje, não é tão utilizada em tratamentos porque, se você tentar dissolver no sangue, não vai funcionar. Só que a gente conseguiu colocá-la dentro das partículas, e as partículas são solúveis. São as nanopartículas que levam o fármaco", diz o pesquisador Mateus Borba Cardoso, do LNLS, também autor do estudo.
O uso do folato, segundo os cientistas, foi apenas um primeiro passo. Novos estudos testarão modos de "decorar" a sílica com anticorpos, aumentando a seletividade da partícula por células de câncer.
Aplicação
O artigo publicado constata a afinidade das nanopartículas revestidas de folato por células de câncer, e sua toxicidade contra essas células. O resultado inicial foi considerado promissor, mas a taxa de técnicas propostas para o combate ao câncer que se mostram favoráveis em testes in vitro e que acabam se revelando realmente viáveis como tratamento é muito baixa – da ordem de 5%, segundo algumas estimativas.
"É um índice baixo, muito baixo", reconhece Cardoso. "Eu, particularmente, acredito que antes que a gente tenha algum ensaio in vivo, mais definitivo, precisamos aprimorar um pouco o sistema, que é o que já estamos fazendo, tentando botar anticorpos na superfície. Porque o anticorpo com a célula de câncer é como se fosse chave e fechadura. Então, a nossa ideia é colocar anticorpos para que somente um único tipo de célula reconheça aquela nanopartícula, através do anticorpo, e aí o tratamento seria muito mais eficaz".
O Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CPNEM) foi usado para análise das nanopartículas. O síncrotron utiliza elétrons acelerados quase à velocidade da luz para produzir feixes de radiação penetrante, capaz de gerar imagens detalhadas e levantar dados sobre as características dos materiais estudados.
(Agência Gestão CT&I, com informações do MCTIC)