Mercado faz Brasil acelerar busca por soluções para desenvolver cidades inteligentes
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- Postado em: set 22, 2016
- Brasil
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A União Europeia conceitua cidades inteligentes (smart cities) como as que incorporam tecnologias da informação e comunicação (TICs) na gestão urbana e as utilizam como ferramentas para estimular a formação de um governo eficiente, com planejamento colaborativo e participação cidadã. Com isso, elas se tornam mais inovadoras, competitivas, atrativas e resilientes, trazendo uma melhor qualidade de vida aos habitantes.
Apesar de ser um conceito relativamente recente, cidades inteligentes já se consolidaram como assunto fundamental na discussão global sobre o desenvolvimento integrado e sustentável. Exemplos não faltam no mundo, como Songdo, na Coréia do Sul, e Copenhague, na Dinamarca, que investiram em tecnologias e inovações para melhorar a mobilidade urbana. Pela projeção da consultoria internacional McKinsey & Company, as smart cities movimentarão um mercado global de soluções tecnológicas estimado em US$ 2 trilhões até a próxima década.
Para desenvolver cidades inteligentes e aproveitar todo esse potencial mercadológico, social e tecnológico, o Brasil necessita adotar alguns elementos essenciais, na visão de especialistas do setor. Experiências com smart cities no País e avaliações sobre como implementar o conceito em outras cidades foram apresentadas nesta quarta-feira (22) no ICT Week, evento promovido no âmbito da cooperação internacional Diálogos Setoriais UE-Brasil.
Uma das iniciativas é o projeto Cidades Inteligentes, do governo federal, que compõe o Programa Nacional de Banda Larga (PNBL). A expectativa é estimular a criação de aplicações de smart cities universalizando o uso da internet no Brasil. Segundo o secretário de Inclusão Digital substituto do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), Américo Bernardes, até o momento, 71 municípios já foram atendidos. A meta é chegar a 335 entre 2018 e 2019.
Com o acesso à internet, o ponto central é deixar que os municípios criem as soluções, a partir de suas especificidades. “Nós vimos que cada município criou soluções e alternativas próprias, e nós incentivamos isso. Ao mesmo tempo que implantamos infraestrutura, houve iniciativas de capacitação e formação tanto de servidores públicos quanto da população. Isso também permite a implantação de aplicativos de governo eletrônico e o desenvolvimento de soluções locais”, informou o secretário.
Experimentação
Segundo Patrícia Ellen, especialista e sócia da McKinsey & Company, um dos principais elementos para desenvolver uma smart city é identificar o papel das cidades e suas necessidades específicas. Essencialmente, setores como segurança, transporte e serviços são sempre os mais beneficiados. “O foco é a solução do problema. Uma solução inteligente para um problema muito específico”, disse. Para isso, o processo de experimentação, tendo como base a tentativa e o erro, é essencial para achar a resposta de algum problema da cidade.
“A nossa regulamentação hoje é feita para não permitir o erro. Precisamos como fator de sucesso em inovação nos permitir fazer projetos pilotos e experimentar. Na China, definiram 117 projetos de cidades inteligentes, e desses, metade surgiu no último ano. Um processo muito rápido e muito focado em tentativa e erro. Criar um arcabouço legal que nos dê liberdade para fazer isso é muito importante”, apontou Ellen.
Na opinião de Daniel Bio, gerente de desenvolvimento de negócios em Internet das Coisas da empresa SAP Brasil, uma forma mais segura de “experimentar” a implementação de uma smart city, para averiguar os reais benefícios trazidos por determinada tecnologia, seria com a criação de ilhas de excelência. “Cada uma terá sua excelência de acordo com sua necessidade e característica. Por exemplo, não adianta querer falar de segurança, trânsito, falta de estacionamento, se a necessidade maior de uma cidade, como Buenos Aires, é se prevenir contra inundações”, exemplificou.
Na capital argentina foram instalados sensores pluviométricos que analisaram os níveis de água dos rios e das chuvas. Os dados recolhidos foram utilizados pelo governo para alertar a população em novos casos. “Fizeram todas as análises com uso das tecnologias disponíveis, e em menos de um ano, antes da próxima inundação, eles conseguiram criar toda uma infraestrutura para fazer predições de quando aconteceria a próxima inundação e, assim, evacuar as pessoas das áreas de risco e tomar providências.”
Para o gerente, a ideia de ilhas de excelência adotada por Buenos Aires pode ser replicada em cidades do Brasil. Em São Paulo, por exemplo, seriam utilizados sensores e drones que poderiam detectar tanto inundações como deslizamentos de terra. “A cidade não seria inteligente, mas ela ofereceria ilhas de excelência. Agora o que vai definir quais serão essas excelências vai ser uma conta simples: de investimento versus retorno. Esse retorno pode ser desde em termos financeiros, reduzindo custos do Estado em acidentes, até no de qualidade de vida da população”, pontuou.
Modelo aberto
Apesar dos projetos para smart cities integrarem tecnologia, bem estar da população e melhoria da gestão pública, precisam, antes de tudo, levar em consideração o diálogo com os municípios. Contudo, de acordo com o secretário de Inclusão Digital do MCTIC, Américo Bernardes, um dos maiores desafios tem sido transformar os dados recolhidos por tecnologias e demais inovações em informações úteis para criar soluções.
“Começamos a trabalhar e aprofundar isso agora, em parcerias com indústrias, entes públicos, empresas estatais, juntando todos para criar soluções. Não ter um modelo próprio tem sido um elemento fundamental que permite termos uma liberdade para construir modelos específicos ou elaborados, de acordo com os nossos problemas e os problemas das cidades”, concluiu Bernardes.
(Leandro Cipriano, da Agência Gestão CT&I)